Insuficiências cardíaca, como o estilo de vida pode ajudar
Segundo o grupo de estudos de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia a Insuficiência Cardíaca define-se como uma síndrome causada por uma anomalia da estrutura do coração ou da sua função cardíaca, conduzindo a um débito sanguíneo inadequado às necessidades metabólicas do organismo em repouso ou em exercício.
Na maioria dos casos, resulta de um conjunto fatores, que inicia com o risco cardiovascular, progredindo para a disfunção cardíaca.
Esta pode ser assintomática numa fase inicial, surgindo posteriormente os sintomas. Normalmente, a síndrome evolui por surtos, quando há descompensação da Insuficiência Cardíaca, que debilitam a condição clínica do doente e agravamento progressivo da Insuficiência Cardíaca.
Embora hoje em dia a Insuficiência Cardíaca surge mais precocemente, aumenta sobretudo a partir dos 65 anos, devido a maior ocorrência de hipertensão arterial (HTA) e de enfarte do miocárdio.
Os principais fatores de riscos fisiopatológicos, citados na literatura para o desenvolvimento da Insuficiência Cardíaca são: hipertensão arterial, doença arterial coronariana, dislipidemias e diabetes, sendo a hipertensão arterial o mais importante entre os fatores de risco. Ainda dentro dos fatores de riscos temos, idade, sexo, composição genética, tabagismo, alimentação hipercalórica e hipoprotéica e o sedentarismo.
Os portadores de Insuficiência Cardíaca têm alterações no seu padrão de vida e apresentam incapacidade na realização das atividades diárias, apresentando sinais e sintomas, como dor, desconforto precordial, dispneia, ortopneia, palpitação, síncope, fadiga e edema. Essas alterações também interferem no estilo de vida das pessoas que convivem com eles e altera a qualidade de vida de ambos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualidade de vida é “a perceção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.
A Organização Mundial da Saúde, apoia a importância da atividade física no programa de Reabilitação Cardíaca de indivíduos com Insuficiência Cardíaca, juntamente com mudanças no estilo de vida por meio de ações educativas. Possibilitando assim aos portadores de Insuficiência Cardíaca a realização plena de suas atividades diárias e diminuindo os sintomas e aumento da qualidade de vida dos mesmos.
De acordo com a Diretriz Brasileira de Reabilitação Cardiovascular, o exercício físico e o tratamento farmacológico são a base para a Reabilitação Cardíaca em indivíduos com Insuficiência Cardíaca.
Ao iniciar um programa de treino para Reabilitação Cardiovascular, recomenda-se que previamente a pessoa tenha passado por uma avaliação funcional, principalmente com Teste Cardiopulmonar de Exercício (TCPE) e Teste Ergométrico (TE). O teste de caminhada de 6 minutos, serve como parâmetro de acompanhamento dos ganhos funcionais. Os testes funcionais devem ser feitos com uso da medicação prescrita.
Na Reabilitação Cardíaca recomenda-se os exercícios aeróbios, que podem ser contínuos de moderada intensidade, correspondente à zona de frequência cardíaca delimitada pelos limiares ventilatórios do Teste Cardiopulmonar de Exercício, ou, no caso do Teste Ergonométrico, à zona situada entre 60% e 80% da FC pico ou 50 e 70% da FC de reserva. Pacientes mais graves e com elevada limitação funcional podem iniciar no limite inferior da prescrição. Progressões de intensidade até o limite superior podem ser realizadas com a evolução do treino.
A terapia baseada em exercício físico exerce um papel importantíssimo na Reabilitação Cardíaca em pessoas com Insuficiência Cardíaca. Tanto os exercícios físicos aeróbicos e anaeróbicos, quanto os de alongamentos e terapia aquática tendem a melhorar a condição física e cardiovascular servindo como ferramenta para diminuir o risco de mortalidade, taxas de reinternações e elevar a qualidade de vida destes indivíduos.
O exercício físico aeróbico é aquele em que há uso de oxigênio para a geração de energia nos músculos, visando o aumento da resistência física, utiliza-se os exercícios de longa duração com intensidade de leve a moderada, tais como: ciclismo, caminhada e corrida. Já os exercícios anaeróbicos não dependem do oxigênio para a geração de energia nos músculos, tendo como função aumento de força muscular, a intensidade deve ser de moderada a alta e possuem curta duração, como por exemplo, os exercícios de força resistidos. Os exercícios de alongamentos têm por objetivo o aumento da flexibilidade muscular e ganho de amplitude de movimento. A terapia aquática são exercícios físicos feitos em ambiente aquático ou atividades terapêuticas que envolvam as propriedades dos princípios físicos da água. Ambas as atividades descritas podem ter intensidade de leve a moderada.
Ainda dentro dos protocolos da Reabilitação Cardíaca os exercícios físicos mencionados irão reduzir os fatores de risco, uma vez que aumentam a manutenção do peso corporal e diminui o risco de obesidade e diabetes, reduz os triglicerídeos, melhora a intolerância a glicose, controle da hipertensão arterial e aprimoramento do metabolismo oxidativo na musculatura esquelética. O que só reforça a evidência da importância do exercício físico na Reabilitação Cardíaca.
Podemos concluir que o estilo de vida saudável pode ajudar em pacientes com Insuficiência Cardíaca, pois é importante para prevenir ou melhorar a qualidade de vida ter como principais ações educativas para a mudança do estilo de vida são: uma alimentação mais equilibrada com menor ingestão de açúcar e gordura, atividade física principalmente o exercício físico aeróbio, controle da pressão arterial, melhoria da qualidade de vida e do sono.
Em relação à intensidade do exercício físico deve ser moderado ou baixo, com aumento gradual da carga de trabalho de 40% a 70% do esforço máximo, por 20 a 45 minutos de 3 a 5 vezes por semana, quanto à intensidade do treino Aeróbio recomenda-se que podem ser contínuos, com intensidade de 60% a 70%. Portanto, a adoção destas medidas pode resultar em melhorias significativas para pacientes com Insuficiência Cardíaca, contribuindo para um melhor controle da doença e uma vida saudável e ativa.
Vitor Guerreiro
Técnico de Exercício
Cédula Profissional Nº 28767
Bibliografia
Baptista, M. (2014). Estilos de vida das pessoas portadoras de Insuficiência Cardiaca. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra – Curso de Mestrado em Enfermagem Comunitária Departamento de Insuficiência Cardíaca e Sociedade Brasileira de Cardiologia. (2018). Diretriz Brasileira de Insuficiência
Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. Pag. 436-539
Fonseca, C., Brito, D., Cernadas, R., Ferreira, J., Branco, F., Rodrigues, T., Morais, J., Cardoso, J. (2017). Pela melhoria do tratamento da Insuficiência Cardíaca em Portugal – Documento de Consenso. Revista Portuguesa de Cardiologia. Pag. 1-8
Freitas, J. (2022) Exercício Físico sobre a qualidade de vida em indivíduos com Insuficiência Cardíaca. Pontificia Universidade Católica de Goiás Escola de Ciências Sociais e de Saúde – Curso de Fisioterapia Morais, L., Antunes, C., Simões, T., Santos, N., Moura, T., Negrã, C. (2008). Alterações autonômas na Insuficiência Cardíaca: benefícios do Exercício Físico. Rev Socer. Pag. 106-111
Oliveira, T., (2011). O impacto da Insuficiência Cardíaca no cotidiano. Universidade Federal Fluminense Aurora Afonso Costa – Graduação de Enf rmagem e Licenciatura